sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sonho

Por Fernando Pessoa, 6-1-1923 ...

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Eis a questão

ATO III – CENA I – (Solilóquio de Hamlet)

“Ser ou não ser - eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias –
E combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono – dizem – extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem ag- üentaria os fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão, porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos? ...”

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Crocitando

De Clarice Lispector em ' Um sopro de vida '

ISTO NÃO É UM LAMENTO, é um grito de ave de rapina. Irisada e intranqüila. O beijo no rosto morto.
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.
De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é.
Hoje está um dia de nada. Hoje é zero hora. Existe por acaso um número que não é nada? que é menos que zero? que começa no que nunca começou porque sempre era? e era antes de sempre? Ligo-me a esta ausência vital e rejuvenesço-me todo, ao mesmo tempo contido e total. Redondo sem início e sem fim, eu sou o ponto antes do zero e do ponto final. Do zero ao infinito vou caminhando sem parar. Mas ao mesmo tempo tudo é tão fugaz. Eu sempre fui e imediatamente não era mais. O dia corre lá fora à toa e há abismos de silêncio em mim. A sombra de minha alma é o corpo. O corpo é a sombra de minha alma.(...)
Sou feliz na hora errada. Infeliz quando todos dançam. Me disseram que os aleijados se rejubilam assim como me disseram que os cegos se alegram. É que os infelizes se compensam.Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio.Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual. Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje. O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia. O aguilhão de abelha do dia florescente de hoje. Graças a Deus, tenho o que comer. O pão nosso de cada dia.
Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa? como, digamos, o próprio fim do mundo? ou seja lá o que for, como a minha morte súbita, hipótese que tornaria supérflua a minha desistência?(...)
Eu tenho que ser minha amiga, senão não agüento a solidão. Quando estou sozinha procuro não pensar porque tenho medo de de repente pensar uma coisa nova demais para mim mesma. Falar alto sozinha e para "o quê" é dirigir-se ao mundo, é criar uma voz potente que consegue — consegue o quê? A resposta: consegue o "o quê". "O quê" é o sagrado sacro do universo.

domingo, 17 de julho de 2011

Sábado

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento... Minha pedra de Calcutá!

_______Mário Quintana

Nota importante: Sensatez

Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
____Cartola

Isso é , depois dos últimos acontecimentos, o que eu chamo de sensatez. Se isso for uma escolha delas, mais sensatez ainda. Isso evita que descubram o real objetivo de seus espinhos (se é que existe um objetivo real). As Rosas deixam, simplesmente, que pensem que é defesa contra possíveis agressões e continuam a sua existência sem serem incomodadas com grandes questionamentos para saciar a curiosidade das outras flores e admiradores, muitas vezes fantasiadas de preocupação.
Se o perfume que elas exalam, foi roubado de um outro Alguém, que seja. Não interessa a Ninguém a sua identidade. Dessa forma ela continuará cheirando a Rosa, Cravo cheirando a cravo e Margarida cheirando a margarida. Imaginem se a Anêmona, sempre abandonada, descobrisse a origem do cheiro da Rosa ? Ou o Cravo? Talvez tenha sido por isso que ele brigou com a Rosa debaixo da sacada. Aliás, isso acontece com frequência, omitir ofende. E quando as pessoas, nesse caso Flores, se sentem ofendidas , brigam. Mas será que ninguém notou que o Cravo também não contou de quem roubou o cheiro que exala? Talvez se a Rosa tivesse percebido esse fato não tivesse saído despedaçada.
Uma vez a Rosa contou a um de seus admiradores, só para passar o tempo e terem assunto, que na Turquia no século XVIII criaram um código para expressar os sentimentos com as flores, e que de acordo com esse código, o luto é expressado pelas, tão desconhecidas, Tagetes; a tristeza com os Gerânios; Se diz que está apaixonado com os Crisântemos; e se declara amor com as Tulipas. Nesse dia a Rosa se despediu dele feliz. Era bom terem assunto. Se entendiam bem. Talvez por isso ele a admirasse tanto, pensou a Rosa. 
No dia seguinte ele voltou e continuaram conversando. No outro a mesma coisa. No outro a mesma coisa. Depois sumiu. Começou a dar  de presente Tagetes, Gerânios e Tulipas. A Rosa então esperou que pelo menos a Madressilva, com sua meiguice, lhe contasse que ela, a Rosa, era usada, de acordo com o tal código, para expressar o amor (informação que a Rosa esquecera, propositalmente, de acrescentar para não parecer arrogante) e com isso ele voltasse. Mas ele não voltou. Talvez a Madressilva com sua modéstia não quisesse mostrar que conhecia o tal código, ou talvez fosse tímida e não gostasse tanto de conversar, ou talvez ele não estivesse amando. Isso também não interessa. O que interessa é que ele não voltou. Talvez depois disso ela tenha parado de falar e tenha preferido confundir e deixar que lhe queiram bem. E quando os admiradores voltam ao jardim para chorar, elas apenas exalam seu perfume e deixam que chorem. Então, eles sempre voltam.
Só não me perguntem como as Rosas me contaram isso tudo, nem em que ocasião.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

É Hoje


Último filme da saga Harry Potter. Ai Deus!! Fez parte de toda a minha adolescência. Fecho um ciclo hoje...rsrsrs

A lista

Mais uma crise ilustrada por um música...



Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

terça-feira, 12 de julho de 2011

E.T. for home



Confesso que desde que mergulhei nesse mundo, que chamo de mundo da arte, me sinto um e.t. quando saio dele. É incrível perceber o quanto o mundo é quadrado.
Peço perdão pela generalização, que de verdade não me agrada, mas se faz necessária para que eu consiga falar. Também não irei escrever sobre o ser artista, até porque me encontro em uma nova crise referente a isso. Quero apenas compartilhar o quanto é engraçado ouvir comentários sobre temas que para muitos é uma grande e absurda polêmica, e que para mim não é nada mais do que natural. Enquanto coisas naturais para essas pessoas, me escandalizam - E olha que não estou incluindo aí nem a boemia, que parece ser uma palavra intrínseca à expressão "ser artista".
Na verdade escrevi essas palavras, porque hoje ouvi uma coisa, que até agora não saiu da minha cabeça, e que é difícil, para mim, acreditar que tenha sido formulada e proferida por alguém que viva no mesmo tempo que eu - no mesmo país e na mesma cidade:

"...Vocês são artistas. Vocês gostam de sonhar. Mas aqui não é lugar disso..."

domingo, 10 de julho de 2011

Médeia, Fedra e Macbeth: A Farsa das Megeras Preciosas





Mostra do modulos III de Interpretação e Direção teatral da escola de teatro da UFBA
Médeia, Fedra e Macbeth: A farsa das Megeras Preciosas.
Coodenação:Érico josé

TRAGÉDIAS:- Medéia: Com Patrícia Oliveira e Tiago Carvalho . Direção: Georgenes Isaac- Fedra : Com Fernanda Beltrão, Amaurí Oliveira, Alex Barreto, E Raphaela de Paula. Direção: Tacira Coelho- Macbeth: Com Laís Machado e Fred Alvin. Direção: Hilda Lopes Pontes.

COMÉDIAS:- A farsa de Inês Pereira: Com Aisha Brito, Laura Sarpa e Yuri Tripodi. Direção: Kléia Cardoso.- A megera domada: Com Luísa Muricy, Luísa Proserpio, Larissa Raton e Thierri Moitinho. Direção: João Saraiva- Preciosas Rídiculas: Com Andrea Rodrigues, Fernando Júnior, Daniel Moreno e João
Rodrigues. Direção: Fausto Soares

Quando: 11 COMÉDIAS (às 10h) 12 TRAGÉDIAS (às 20h) 14 COMÉDIAS (ás 20H) E 15 TRAGÉDIAS (ás 10h) julho de 2011
Onde: Faculdade de Medicina da UFBA - Terreiro de Jesus, Pelourinho.( Por favor chegar 30 minutos antes. só seram distribuidas 40 senhas, se liga galera!)
Quanto: Entrada Franca.
Esperamos por vocês!!

A volta dos mortos vivos

Coitado do meu blog.Entregue às traças.
Pensei em muitas coisas para escrever nessa semana. Mas essa não foi uma semana de Deus. As 24hrs do meu dia ocupadas me obrigaram a ocultar todos os pensamentos que pensei em compartilhar aqui.
Paciência....
Aproveitando essa minha volta, divulgo a mostra da minha turma, que vai acontecer a partir de amanhã.
Eu farei MACBETH, uma tragédia Shakespeareana. Mas também farei parte dos coros das cenas de comédia dos meus colegas.
Então...se vc está lendo agora a volta do coma deste pobre blog, espero você lá.