segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Versos Intímos




Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos

Presença

É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,
teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento
das horas ponha um frêmito em teus cabelos...
É preciso que a tua ausência trescale
sutilmente, no ar, a trevo machucado,
as folhas de alecrim desde há muito guardadas
não se sabe por quem nalgum móvel antigo...
Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela
e respirar-te, azul e luminosa, no ar.
É preciso a saudade para eu sentir
como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida...
Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista
que nunca te pareces com o teu retrato...
E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.

Mário Quintana

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Bandido bom, é bandido morto?


Estava, calmamente, passeando pelo facebook, quando me deparei com a seguinte frase "bandido bom, é bandido morto".
Imagino que o impulso para postar essa frase tenha sido essa guerra que está ocorrendo no Rio de Janeiro, que fez o país voltar os olhos para lá, e torcer para que todos os bandidos sejam aniquilados pela polícia, e dessa forma  o Rio esteja a salvo de toda violência que o tem destacado. Essa frase, a do bandido, me fez pensar um pouco. E enquanto escrevo, meus neurônios continuam trabalhando e discutindo, tentando chegar em um consenso. Mas até agora...nada feito.
Moro em um bairro perigoso, (aliás, em Salvador, qual bairro não é perigoso?) e saio todos os dias com medo. Sinto muita raiva de bandido, e se dissesse que nunca desejei a morte de um desses sacanas que me ameaçaram em algum momento, ou ameaçaram alguém da minha família, eu estaria mentindo. Mas isso não é sufiente para me fazer concordar com a frase motriz desse post.
Temos que lembrar de uma coisa...os bandidos não nasceram do nada. Não acredito na geração espontânea nem do Universo, quanto mais de um problema social. E se este problema não for sanado, de que adianta matar os bandidos, se outros nascerão, e darão continuidade à cadeia "alimentar"?!?

Fecho esse post com o mestre Gabriel, O pensador :

NUNCA SERÃO



Eu caminhava no meu Rio de Janeiro quando alguém me parou e falou:
"Aê parceiro, me dá tua mão que eu quero ver se tá com cheiro
Porque eu sou um cara honesto e detesto maconheiro"
Eu tinha acabado de sair do banheiro e dei a mão pra ele cheirar
Mas foi uma cena bisonha
Ele cheirou a minha mão por um tempo e eu disse:
Espera, tu não é o Capitão Nascimento?
Que vergonha, meu capitão
Procurando maconha no calçadão
Qual é a tua missão?
Eu vi teu filme mas não me leva a mal
Não me tortura assim não que eu sou um cara legal
Em certas coisas eu concordo contigo
Mas não é assim que você vai achar os grandes bandidos
Esse país tá fodido
Ele falou: 'Eu sei disso
Quando eu entrei na PM, eu assumi um compromisso, eu luto pela justiça'
Eu também
Sem justiça não tem paz e sem paz eu sou refém
A injustiça é cega e a justiça enxerga bem
Mas só quando convém
A lei é do mais forte, no Bope ou na Febem
Na boca ou no Supremo
Que justiça a gente tem, que justiça nós queremos?
Os corruptos cassados?
Nunca serão!
Cidadãos bem informados?
Nunca serão!
Hospitais bem equipados?
Nunca serão! Nunca serão!! Nunca serão!!!
Os impostos bem usados?
Nunca serão!
Os menores educados?
Nunca serão!
Todos alfabetizados?
Nunca serão! Nunca serão!! Nunca serão!!!
Capitão, não sei se você soube dessa história
Que rolou num povoado peruano se não me falha a memória
Um político foi morto pelo povo
Um corrupto linchado por um povo que cansou de desrespeito
E resolveu fazer justiça desse jeito
Foi um linchamento, foi um mau exemplo
Foi um mau exemplo mas não deixa de ser um exemplo
Eu sou contra a violência mas aqui a gente peca por excesso de paciência
Com o "rouba mas faz" dos verdadeiros marginais
Chamados de "doutor" e "vossa excelência"
Cujos nomes não preciso dizer
A imprensa publica, mas tudo indica que a justiça não lê
Diz que é cega, mais o lado dos colegas ela sempre vê
Capitão, isso é um serviço pra você!
Deputado! Pede pra sair!
Pede pra sair, deputado!
Sabe o que você é? Um muleque, é isso que você é
Senador, pede pra sair!
(Desisto!)
Mais alto senador!
(Desisto!)
Vagabundo, cadê o dinheiro que você desviou dessa obra aqui?
(Eu não sei não!)
Fala, Vossa Excelência, é melhor falar!
(Eu não sei!)
Cadê a verba da merenda que sumiu?
02, o corrupto não quer falar não! Pode pegar o cabo de vassoura!
(Tá bom, eu vou falar, eu vou falar!)
Os corruptos cassados?
Nunca serão!
Cidadãos bem informados?
Nunca serão!
Hospitais bem equipados?
Nunca serão! Nunca serão!! Nunca serão!!!
Os impostos bem usados?
Nunca serão!
Os menores educados?
Nunca serão!
Todos alfabetizados?
Nunca serão! Nunca serão!! Nunca serão!!!
Conversei com o Nascimento que não pensa como eu penso mas pensando nós chegamos num consenso
Nós somos vítimas da violência estúpida que afeta todo mundo, menos esses vagabundos lá da cúpula corrupta hipócrita e nojenta
Que alimenta a desigualdade e da desigualdade se alimenta
Mantendo essa política perversa
Que joga preto contra branco, pobre contra rico e vice-versa
Pra eles isso é jogo, esse é o jogo
Se morre mais um assaltante ou mais um assaltado, tanto faz
Pra eles não importa, gente viva ou gente morta
É tudo a mesma merda
Os velhos nas portas dos hospitais, as crianças mendigando nos sinais
Pra eles nós somos todos iguais
Operários, empresários e presidiários e policiais
Nós somos os otários ideiais
Enquanto a gente sua e morre
Só os bandidos de gravata seguem faturando e descansando em paz
Enquanto esses covardes continuam livres, nós só temos grades
Liberdade já não temos mais!
Nunca serão!
Nunca serão!
Nunca serão! Nunca serão !! Nunca serão !!!
Nunca serão!
Nunca serão!
Nunca serão! Nunca serão !! Nunca serão !!!

Boa 06, também atirando com o meu fuzil fica fácil, né?
Caveira!

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Soneto a Quatro Mãos

Por Vinicius de Moraes

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.


Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.


Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.


Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Carta aos Companheiros!

Essa foi uma carta que escrevi, depois de um susto, para minha turma, que agora está em processo de montagem de um texto de Dias Gomes: Campeões do Mundo.

Olá Companheiros,


Neste sábado, não fomos ao Estádio de Pituaçú fazer nosso laboratório, como desejava Companheira Matilde. Mas, se repararem, estamos vivendo, em nossas casas, um laboratório fantástico hoje.


Brincadeiras à parte, agora enquanto escrevo, ouço fogos de artifício, que assustam os meus cachorros, ouço gritos do meu vizinho de “Bahêa, minha poha”, que incomodam a minha mãe. Passei por ruas que por hora estavam desertas, mas que, em breve, se tornarão palco de um carnaval. Recebi, momentos antes, a notícia de que meu irmão foi perseguido na rua por alguns caras, creio que por ser torcedor do Vitória, e só não lhe aconteceu nada porque, graças a Deus, ele é bastante veloz e conseguiu chegar à casa de um amigo a tempo.


Sempre que penso no texto que escolhemos pra nossa montagem final, sempre que assisto filmes e vídeos, sempre que discuto sobre o tema, sempre que estudo o texto de alguma forma, me lembro da nossa primeira reunião, onde Elaine levantou o questionamento: Por que montar Campeões do Mundo hoje? E sempre que penso nisso, uma música, ou melhor, algumas me vêm à mente, para responder. Dentre elas uma me chama muito a atenção e reforça pra mim o quão atual é este tema. Que voltou a minha mente, quando pensei na importância que se tornou essa vitória do Bahia.


Como lembrou Lucílio, o tema principal deste texto não é a ditadura. É o poder. O poder que a mídia exerce sobre as pessoas, o poder que a massa tem, o poder que as grandes distrações exercem sobre a sociedade. As pessoas que remaram contra aquela maré de tranqüilidade e progresso que se alcançava com a Ordem estabelecida sob o comando militar, não poderiam, realmente, serem vista com bons olhos.


Hoje não é mais a ditadura que nos oprime. Vivemos num regime democrático. Onde um partido de esquerda assume o cargo político mais importante. Agora sob a batuta de uma mulher, e mais, ex-militante. Não podíamos estar vivendo um período mais diferente do que aquele vivido pelos personagens de nosso texto. Mas tudo é tão igual. O que há de errado, então?


A mídia ainda exerce muita influência em todos. Sem exceções. E esse domínio é cada vez maior, e por meios de comunicação cada vez mais diversos. Fabricam, todos os dias, heróis e vilões, a seu bel prazer. E a população, como se acompanhasse uma novela, esquece o antigo herói assim que aparece um novo. Esquece o antigo vilão, assim que outro faz o que parece ser mais cruel. Mas, como não acredito na existência de um medidor para a crueldade, afirmo: é apenas mais atual.


Pessoas que se manifestavam contra o regime eram punidas, se dessem sorte, eram, de acordo com o “Brasil, ame-o ou deixe-o”, mandadas para fora do país, ou, outras com menos sorte, simplesmente desapareciam. Hoje, experimente denunciar um traficante e ser descoberto por ele. Militantes ainda morrem, aqui, no Amazonas e em outros estados, vira e mexe sai uma noticia por aí. Pessoas se calam por medo.


Alguns pensam que hoje, se comparado ao período, há paz. Que hoje não há uma censura pra nos proibir de falar. Só peço que se lembrem que naquele período também havia pessoas que se viam num mar de paz. E sim, hoje, podemos falar. Não nos faltam meios de comunicação, mas não há pessoas pra ler. Pois a grande maioria prefere não se envolver com este tema e acompanhar as novelas dos heróis e vilões que falei anteriormente.


Isso tudo me veio à mente, ao pensar na vitória do Bahia, e no frisson que isso causou. Adoro futebol, e num Estádio, torcendo pelo Vitória, fico ensandecida. Mas por que todo esse reboliço porque o Bahia subiu? Com tanta coisa acontecendo. Há poucas semanas íamos às urnas para escolher quem exerceria o cargo mais alto na nossa política por 4 anos, sem contar com governadores e os deputados, e nessa hora, cadê o povo? Ouvi muitos reclamarem que esta eleição estava vergonhosa, que, na urna, iriam votar no “menos pior” ... Nessa hora cadê o povo? Todo dia morre um aqui no nordeste (meu bairro), ou um é assaltado a caminho do trabalho, aqui ou em qualquer lugar... Nessa hora, cadê o povo?


Dessa vez, nós, atores, artistas, é que remamos contra a maré. Não podemos seqüestrar um embaixador, pra chamar a atenção do país, mas podemos subir no palco e dizer. O que quisermos, e como quisermos. Não é algo imediato, é um trabalho de formiguinha. Mas lá podemos ser os “ Campeões do mundo”.

Adiamento

Por Fernando Pessoa

Depois de amanhã, sim, só depois de amanhã...
Levarei amanhã a pensar em depois de amanhã,
E assim será possível; mas hoje não...
Não, hoje nada; hoje não posso.
A persistência confusa da minha subjetividade objetiva,
O sono da minha vida real, intercalado,
O cansaço antecipado e infinito,
Um cansaço de mundos para apanhar um elétrico...
Esta espécie de alma...
Só depois de amanhã...
Hoje quero preparar-me,
Quero preparar-rne para pensar amanhã no dia seguinte...
Ele é que é decisivo.
Tenho já o plano traçado; mas não, hoje não traço planos...
Amanhã é o dia dos planos.
Amanhã sentar-me-ei à secretária para conquistar o mundo;
Mas só conquistarei o mundo depois de amanhã...
Tenho vontade de chorar,
Tenho vontade de chorar muito de repente, de dentro...

Não, não queiram saber mais nada, é segredo, não digo.
Só depois de amanhã...
Quando era criança o circo de domingo divertia-rne toda a semana.
Hoje só me diverte o circo de domingo de toda a semana da minha infância...
Depois de amanhã serei outro,
A minha vida triunfar-se-á,
Todas as minhas qualidades reais de inteligente, lido e prático
Serão convocadas por um edital...
Mas por um edital de amanhã...
Hoje quero dormir, redigirei amanhã...
Por hoje, qual é o espetáculo que me repetiria a infância?
Mesmo para eu comprar os bilhetes amanhã,
Que depois de amanhã é que está bem o espetáculo...
Antes, não...
Depois de amanhã terei a pose pública que amanhã estudarei.
Depois de amanhã serei finalmente o que hoje não posso nunca ser.
Só depois de amanhã...
Tenho sono como o frio de um cão vadio.
Tenho muito sono.
Amanhã te direi as palavras, ou depois de amanhã...
Sim, talvez só depois de amanhã...

O porvir...
Sim, o porvir...

A Chuva Desce a Ladeira

(Por Fernando Pessoa)
ÁGUA da chuva desce a ladeira.
É uma água ansiosa.
Faz lagos e rios pequenos, e cheira
A terra a ditosa.
Há muitos que contam a dor e o pranto
De o amor os não qu'rer...
Mas eu, que também não os tenho, o que canto
É outra coisa qualquer.

Nota importante - Nada pra escrever


Muitas janelas abertas para o mundo virtual, uma mão parada em cima do teclado, o som da tv ligada ao longe, uma música no fone de ouvido, um trabalho da faculdade pesando a consciência, que está tão cansada que se recusa a escrever sequer o cabeçalho. 
Mas a consciência não é a única coisa que pesa. 
Os olhos pesam de sono, o coração pesa de medo, a cabeça pesa de pensamentos, o corpo pesa de cansaço, o passado pesa de mágoa, o presente pesa de dúvidas,  o futuro próximo pesa de expectativas, o futuro distante pesa de sonhos, as relações pesam de fantasia, a vida pesa de imaginação.

sábado, 13 de novembro de 2010

Post inacabado


Faz tempo que não escrevo, diretamente, nada sobre mim. Faz tempo que não escrevo nada sobre o fluxo incontrolável de pensamentos que passam pela minha cabeça a cada segundo. Alguns fazendo uma escala perigosa um pouco mais abaixo. Lá por aquela região sempre tão nebulosa que teimamos em chamar de coração.
Talvez se tivesse tentado não teria conseguido, nunca isso foi tão confuso. 
Tenho amado e odiado pessoas com a mesma intensidade. Ou talvez tenha odiado algumas pelo simples fato de amá-las e não ser amada de volta. Acho que o ego pode ter uma boa parcela de culpa. Tenho gostado racionalmente de algumas outras pessoas. Mas isso é possível? É possível sentir algo racionalmente? Eu que sempre achei que a racionalidade e o sentimento fizessem parte de esferas tão distintas.
Tenho abusado das minhas mudanças de humor, fazendo transições entre os picos, positivos e negativos, de humor com uma velocidade assustadora. Mas descobri ferramentas que mantém a situação mais estável. Mas nunca as uso. Por um motivo muito simples: Não quero. E isso é louco, pois sempre reclamei da minha instabilidade. Por que querer e fazer são tão distantes?
Tenho dito mais as coisas. Ao mesmo tempo que tenho exercitado o não falar. Acho que é mais uma busca , entre o equilibrio do que deve ser dito e do que não. As vezes boto a cabeça no travesseiro e me vejo bem sucedida na batalha daquele dia. Outras, faço o mesmo antes de dormir e choro. Aquelas lágrimas amargas da derrota.
Tenho largado alguns vícios. O de brincar pra esconder a dor, o de desisti sempre que alguma coisa não sai como planejado,  o de beber pra conseguir falar o que estar na minha cabeça., o de usar pretextos para estar perto de alguém. Mas o vício mais pesado que carregava comigo que tenho abandonado é o vício na tristeza. Essa é uma droga terrível, com um alto grau de dependência.
Tenho perdido alguns medos. O de andar pela minha rua à noite, o de ouvir um não, o de assombração, o do escuro, e o da solidão.
Tenho sentido mais sede. De fazer, de correr riscos, de experimentar, de rir, de chorar, de sentir, de emocionar, de trabalhar, de viver.
Isso é o máximo que posso. Foi tudo que consegui pôr pra fora...o resto fica comigo e esse post fica assim...inacabado.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Quinta vez, nada mais!

No sábado, assisti, pela quinta vez, 'Uma Vez Nada Mais' e me espantei quando notei que ainda não tinha comentado sobre ela aqui no blog. Resolvi, então, corrigi esta falha! 
Pra começar, irei repetir aqui o que está escrito em todos os programas que peguei, e em todos os resumos pela internet que achei: É uma peça que trata do universo feminino, inspirado no cinema mudo.
Esta última informação me deixou meio receiosa quando fui assisti pela primeira vez. Pensei: Será que aguento assisti 55 min de peça, sem uma fala!? Não só consegui, como nem vi o tempo passar. É uma peça fantástica.
Nem sei o que começo comentando... bom...acho que começarei pela história. Que é muito simples. Uma costureira que passa a peça inteira esperando que seu telefone toque, e ela consiga finalmente falar com seu amado. Ela é responsável pelo vestido de casamento de uma outra mulher que é bem resolvida e já está de  casamento marcado. Esta tenta ajudar a primeira a ser mais orgulhosa mas no meio do caminho sua vida também começa a desmoronar. 
O cenário, que é constituído por duas salas, uma da costureira (Aícha Marques) e a outra da noiva (Maria Menezes). E acho que à primeira vista já cumpre o seu papel de ambientar a peça.O que serve para separar a sala dos "outros cômodos" da casa é um biombo, que não sei se semiológicamente quer dizer alguma coisa, mas que tem as cores invertidas. E de fato a vida delas é uma o avesso da outra.
Tem duas coisas que me fascinam na parte técnica de uma peça: A iluminação e a sonoplastia. Mas merecem destaque nessa peça. Elas "são dois personagens da peça", como disse Maria Menezes no último sábado. E de fato o são. Uma vez que elas não falam nada, os diálogos são estabelecidos com as músicas (não digo nem as radionovelas dubladas por elas) e a iluminação acompanha este fluxo. Isso sempre foi muito claro pra mim, mas no sábado vi a diferença que faz. Como uma "expert " da peça, notei alguns atrasos e alguns adiantamentos no decorrer da peça. Quando terminou Maria agradeceu ao operador de som, que havia substituído o antigo no dia anterior. Estava justificado.
Bem, por último, gostaria de falar do trabalho das atrizes. Isso é, sem dúvida, o que mais chama minha atenção. Algumas vezes esquecemos que estamos no teatro e nos vemos numa sala de cinema de filmes antigos, com direito, inclusive, aos deleys'zinhos oriundos da configuração dos esquemas de filmagem antigos. Maria Menezes e Aícha Marques formam uma dupla maravilhosa.  Não acompanho a carreira das duas para poder usar outros exemplos do sucesso dessa parceria, mas pelo que vi em 'Uma vez, nada mais' se houveram, deram super certo. Não tenho dúvidas.
O trabalho de corpo é incrível, aí falo principalmente de Aícha Marques. Não foi a toa o prêmio de melhor atriz no Braskem desse ano (Quero ser assim quando eu crescer.).
O espetáculo ganhou o prêmio de melhor espetáculo no Braskem e no festival de Guaramiranga, desta vez através do júri popular (o que é melhor ainda, eu acho) e de melhor atriz no Braskem. E ainda não me conformo por ter perdido o de melhor direção. Afinidades à parte, a "costura " do espetáculo foi muito bem feita, e as soluções para o entendimento da trama, sem o uso da fala também são ótimos.
Enfim...parece que vai voltar a ficar em cartaz. Quem ainda não foi, vai lá ver . Se bobiar a gente até se encontra por lá! (hauhauhauhha)