terça-feira, 16 de agosto de 2011

Respirando

Quem faz um poema abre uma janela.
Respira, tu que estás numa cela abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
- para que possas profundamente respirar.
Quem faz um poema salva um afogado.

____________Mário Quintana 

domingo, 14 de agosto de 2011

Soneto susurrado

Dídi, os outros podem ser mais famosos, mas esse é tão lindo quanto, e o melhor: é meu! hahahaha' (Observe as minhas TAGs do Blog, antes de falar besteira)


Os ventos tardios hoje me trazem a voz
Que em conjunto com a sonata sem grito,
Sussurra no tímpano em um momento restrito
... A pianíssima que sem esforço não soa feroz

E hoje, pela manhã, conversando com os pássaros...
(as aves preguiçosas que em um momento,
Permitiram-me criar o prelúdio sem nenhum instrumento)
Pude entender seus cantos como sussurros claros

Imagem que se forma em contornos poéticos avistada
Chega para mim no sorriso inteiramente sonoro
- Não existem mais brados... é sua voz (amena) chegando ao poro

Parado, a minha voz assume uma mudez desarrumada
Minha audição, sem esperar o fim, beira ao acaso do ouvir
... Os sentidos se entranham... no gesto... lábio a lábio... luzir

Diego Pinheiro
10 de Junho de 2011, 01h:49min

Se eu fosse um padre

Por Mário Quintana


Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,


não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,



Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!


Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Pessoando

Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece

O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Fernando Pessoa, 4-8-1930

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Sonho

Por Fernando Pessoa, 6-1-1923 ...

Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.

Se existo é um erro eu o saber. Se acordo
Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.

Lapso da consciência entre ilusões,
Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Eis a questão

ATO III – CENA I – (Solilóquio de Hamlet)

“Ser ou não ser - eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma
Pedradas e flechadas do destino feroz
Ou pegar em armas contra o mar de angústias –
E combatendo-o, dar-lhe fim? Morrer; dormir;
Só isso. E com o sono – dizem – extinguir
Dores do coração e as mil mazelas naturais
A que a carne é sujeita; eis uma consumação
Ardentemente desejável. Morrer – dormir –
Dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo!
Os sonhos que hão de vir no sono da morte
Quando tivermos escapado ao tumulto vital
Nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão
Que dá à desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo,
A afronta do opressor, o desdém do orgulhoso,
As pontadas do amor humilhado, as delongas da lei,
A prepotência do mando, e o achincalhe
Que o mérito paciente recebe dos inúteis,
Podendo, ele próprio, encontrar seu repouso
Com um simples punhal? Quem ag- üentaria os fardos,
Gemendo e suando numa vida servil,
Senão, porque o terror de alguma coisa após a morte –
O país não descoberto, de cujos confins
Jamais voltou nenhum viajante – nos confunde a vontade,
Nos faz preferir e suportar os males que já temos,
A fugirmos pra outros que desconhecemos? ...”

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Crocitando

De Clarice Lispector em ' Um sopro de vida '

ISTO NÃO É UM LAMENTO, é um grito de ave de rapina. Irisada e intranqüila. O beijo no rosto morto.
Eu escrevo como se fosse para salvar a vida de alguém. Provavelmente a minha própria vida. Viver é uma espécie de loucura que a morte faz. Vivam os mortos porque neles vivemos.
De repente as coisas não precisam mais fazer sentido. Satisfaço-me em ser. Tu és? Tenho certeza que sim. O não sentido das coisas me faz ter um sorriso de complacência. De certo tudo deve estar sendo o que é.
Hoje está um dia de nada. Hoje é zero hora. Existe por acaso um número que não é nada? que é menos que zero? que começa no que nunca começou porque sempre era? e era antes de sempre? Ligo-me a esta ausência vital e rejuvenesço-me todo, ao mesmo tempo contido e total. Redondo sem início e sem fim, eu sou o ponto antes do zero e do ponto final. Do zero ao infinito vou caminhando sem parar. Mas ao mesmo tempo tudo é tão fugaz. Eu sempre fui e imediatamente não era mais. O dia corre lá fora à toa e há abismos de silêncio em mim. A sombra de minha alma é o corpo. O corpo é a sombra de minha alma.(...)
Sou feliz na hora errada. Infeliz quando todos dançam. Me disseram que os aleijados se rejubilam assim como me disseram que os cegos se alegram. É que os infelizes se compensam.Nunca a vida foi tão atual como hoje: por um triz é o futuro. Tempo para mim significa a desagregação da matéria. O apodrecimento do que é orgânico como se o tempo tivesse como um verme dentro de um fruto e fosse roubando a este fruto toda a sua polpa. O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então — para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa — eu cultivo um certo tédio.Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo. Noite e dia são contrários porque são o tempo e o tempo não se divide. De agora em diante o tempo vai ser sempre atual. Hoje é hoje. Espanto-me ao mesmo tempo desconfiado por tanto me ser dado. E amanhã eu vou ter de novo um hoje. Há algo de dor e pungência em viver o hoje. O paroxismo da mais fina e extrema nota de violino insistente. Mas há o hábito e o hábito anestesia. O aguilhão de abelha do dia florescente de hoje. Graças a Deus, tenho o que comer. O pão nosso de cada dia.
Saber desistir. Abandonar ou não abandonar — esta é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada a ninguém. E está longe de ser rara a situação angustiosa em que devo decidir se há algum sentido em prosseguir jogando. Serei capaz de abandonar nobremente? ou sou daqueles que prosseguem teimosamente esperando que aconteça alguma coisa? como, digamos, o próprio fim do mundo? ou seja lá o que for, como a minha morte súbita, hipótese que tornaria supérflua a minha desistência?(...)
Eu tenho que ser minha amiga, senão não agüento a solidão. Quando estou sozinha procuro não pensar porque tenho medo de de repente pensar uma coisa nova demais para mim mesma. Falar alto sozinha e para "o quê" é dirigir-se ao mundo, é criar uma voz potente que consegue — consegue o quê? A resposta: consegue o "o quê". "O quê" é o sagrado sacro do universo.

domingo, 17 de julho de 2011

Sábado

Hoje me acordei pensando em uma pedra numa rua de Calcutá. Numa determinada pedra numa rua de Calcutá. Solta. Sozinha. Quem repara nela? Só eu, que nunca fui lá. Só eu, deste lado do mundo, te mando agora esse pensamento... Minha pedra de Calcutá!

_______Mário Quintana

Nota importante: Sensatez

Queixo-me às rosas,
Mas que bobagem
As rosas não falam
____Cartola

Isso é , depois dos últimos acontecimentos, o que eu chamo de sensatez. Se isso for uma escolha delas, mais sensatez ainda. Isso evita que descubram o real objetivo de seus espinhos (se é que existe um objetivo real). As Rosas deixam, simplesmente, que pensem que é defesa contra possíveis agressões e continuam a sua existência sem serem incomodadas com grandes questionamentos para saciar a curiosidade das outras flores e admiradores, muitas vezes fantasiadas de preocupação.
Se o perfume que elas exalam, foi roubado de um outro Alguém, que seja. Não interessa a Ninguém a sua identidade. Dessa forma ela continuará cheirando a Rosa, Cravo cheirando a cravo e Margarida cheirando a margarida. Imaginem se a Anêmona, sempre abandonada, descobrisse a origem do cheiro da Rosa ? Ou o Cravo? Talvez tenha sido por isso que ele brigou com a Rosa debaixo da sacada. Aliás, isso acontece com frequência, omitir ofende. E quando as pessoas, nesse caso Flores, se sentem ofendidas , brigam. Mas será que ninguém notou que o Cravo também não contou de quem roubou o cheiro que exala? Talvez se a Rosa tivesse percebido esse fato não tivesse saído despedaçada.
Uma vez a Rosa contou a um de seus admiradores, só para passar o tempo e terem assunto, que na Turquia no século XVIII criaram um código para expressar os sentimentos com as flores, e que de acordo com esse código, o luto é expressado pelas, tão desconhecidas, Tagetes; a tristeza com os Gerânios; Se diz que está apaixonado com os Crisântemos; e se declara amor com as Tulipas. Nesse dia a Rosa se despediu dele feliz. Era bom terem assunto. Se entendiam bem. Talvez por isso ele a admirasse tanto, pensou a Rosa. 
No dia seguinte ele voltou e continuaram conversando. No outro a mesma coisa. No outro a mesma coisa. Depois sumiu. Começou a dar  de presente Tagetes, Gerânios e Tulipas. A Rosa então esperou que pelo menos a Madressilva, com sua meiguice, lhe contasse que ela, a Rosa, era usada, de acordo com o tal código, para expressar o amor (informação que a Rosa esquecera, propositalmente, de acrescentar para não parecer arrogante) e com isso ele voltasse. Mas ele não voltou. Talvez a Madressilva com sua modéstia não quisesse mostrar que conhecia o tal código, ou talvez fosse tímida e não gostasse tanto de conversar, ou talvez ele não estivesse amando. Isso também não interessa. O que interessa é que ele não voltou. Talvez depois disso ela tenha parado de falar e tenha preferido confundir e deixar que lhe queiram bem. E quando os admiradores voltam ao jardim para chorar, elas apenas exalam seu perfume e deixam que chorem. Então, eles sempre voltam.
Só não me perguntem como as Rosas me contaram isso tudo, nem em que ocasião.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

É Hoje


Último filme da saga Harry Potter. Ai Deus!! Fez parte de toda a minha adolescência. Fecho um ciclo hoje...rsrsrs

A lista

Mais uma crise ilustrada por um música...



Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais...

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar...

Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

terça-feira, 12 de julho de 2011

E.T. for home



Confesso que desde que mergulhei nesse mundo, que chamo de mundo da arte, me sinto um e.t. quando saio dele. É incrível perceber o quanto o mundo é quadrado.
Peço perdão pela generalização, que de verdade não me agrada, mas se faz necessária para que eu consiga falar. Também não irei escrever sobre o ser artista, até porque me encontro em uma nova crise referente a isso. Quero apenas compartilhar o quanto é engraçado ouvir comentários sobre temas que para muitos é uma grande e absurda polêmica, e que para mim não é nada mais do que natural. Enquanto coisas naturais para essas pessoas, me escandalizam - E olha que não estou incluindo aí nem a boemia, que parece ser uma palavra intrínseca à expressão "ser artista".
Na verdade escrevi essas palavras, porque hoje ouvi uma coisa, que até agora não saiu da minha cabeça, e que é difícil, para mim, acreditar que tenha sido formulada e proferida por alguém que viva no mesmo tempo que eu - no mesmo país e na mesma cidade:

"...Vocês são artistas. Vocês gostam de sonhar. Mas aqui não é lugar disso..."

domingo, 10 de julho de 2011

Médeia, Fedra e Macbeth: A Farsa das Megeras Preciosas





Mostra do modulos III de Interpretação e Direção teatral da escola de teatro da UFBA
Médeia, Fedra e Macbeth: A farsa das Megeras Preciosas.
Coodenação:Érico josé

TRAGÉDIAS:- Medéia: Com Patrícia Oliveira e Tiago Carvalho . Direção: Georgenes Isaac- Fedra : Com Fernanda Beltrão, Amaurí Oliveira, Alex Barreto, E Raphaela de Paula. Direção: Tacira Coelho- Macbeth: Com Laís Machado e Fred Alvin. Direção: Hilda Lopes Pontes.

COMÉDIAS:- A farsa de Inês Pereira: Com Aisha Brito, Laura Sarpa e Yuri Tripodi. Direção: Kléia Cardoso.- A megera domada: Com Luísa Muricy, Luísa Proserpio, Larissa Raton e Thierri Moitinho. Direção: João Saraiva- Preciosas Rídiculas: Com Andrea Rodrigues, Fernando Júnior, Daniel Moreno e João
Rodrigues. Direção: Fausto Soares

Quando: 11 COMÉDIAS (às 10h) 12 TRAGÉDIAS (às 20h) 14 COMÉDIAS (ás 20H) E 15 TRAGÉDIAS (ás 10h) julho de 2011
Onde: Faculdade de Medicina da UFBA - Terreiro de Jesus, Pelourinho.( Por favor chegar 30 minutos antes. só seram distribuidas 40 senhas, se liga galera!)
Quanto: Entrada Franca.
Esperamos por vocês!!

A volta dos mortos vivos

Coitado do meu blog.Entregue às traças.
Pensei em muitas coisas para escrever nessa semana. Mas essa não foi uma semana de Deus. As 24hrs do meu dia ocupadas me obrigaram a ocultar todos os pensamentos que pensei em compartilhar aqui.
Paciência....
Aproveitando essa minha volta, divulgo a mostra da minha turma, que vai acontecer a partir de amanhã.
Eu farei MACBETH, uma tragédia Shakespeareana. Mas também farei parte dos coros das cenas de comédia dos meus colegas.
Então...se vc está lendo agora a volta do coma deste pobre blog, espero você lá.



sábado, 4 de junho de 2011

Eu e água

Adoro quando músicas falam por mim...


Mamãe Oxum, pode acontecer pra qualquer um.A cabeça tonta,a sedução...E não dou conta nunca mais do coração!Meu coração...
Mamãe Oxum, não vá me dizer, que isso é tão comum!Não existe amor que alucine assim.
Oh! Minha Oxum...Não deixa de cuidar de mim.Momento algum.
Um olhar de mulher, num instante sequer, pode cegar, mas na noite escura,vem me guiar.Vai dourando a Lagoa e mergulha no fundo. Já sabe o segredo que mora no medo do meu olhar.

Yá Lodê, Olô Mi Mã,Olô Mi Má Yó.
Yá Lodê,Yá Lodê Yá.
Yá Lodê, Olô Mi Mã,Olô Mi Má Yó.
Yá Lodê

A água arrepiada pelo vento.A água e seu cochicho.A água e seu rugido. A água e seu silêncio.
A água me contou muitos segredos. Guardou os meus segredos.Refez os meus desenhos.Trouxe e levou meus medos.
Grande mãe me viu num quarto cheio d'água.Num enorme quarto lindo e cheio d'água, e eu nunca me afogava.
O mar total e eu dentro do enterno ventre, e a voz de meu pai, voz de muitas águas.Depois o rio passa.Eu e água, eu e água...
Eu.Cachoeirinha, lago, onda, gota,Chuva miúda, fonte, neve, mar. A vida que me é dada.Eu e água.
A água arrepiada pelo vento, a água e seu cochicho, a água e seu rugido, a água e seu silêncio.
A água me contou muitos segredos. Guardou os meus segredos.Refez os meus desenhos.Trouxe e levou meus medos.
Grande mãe me viu num quarto cheio d'água.Num enorme quarto lindo e cheio d'água, e eu nunca me afogava.
A água lava as mazelas do mundo. E lava a minha alma. Lava minha alma...


domingo, 29 de maio de 2011

Um presente presente.

Soneto Oitavado em Si Menor


O universo que em outrora era todo dentro
Salpica, adocicado, no que é puro contento
E a vista, em sua vista avista a música muda
Interroga-se agora sobre o silêncio, confusa

O universo agora entende que se arrisca,
Pois com esse pingo (pungência), laça-o a vida
Olha a sua prole que aprende a gritar sem agonia
- Nobre contento, em seus minutos e horas, bom dia!

Pingo de universo, acorda os pássaros de Quintana
Traga-os para o seu coro, respeitando a sua gana
Componham um prelúdio em notas menos dolorosas

Afinal é a voz em alto e bom som que poetiza as rosas
Pingo de universo... ouça e releve... Teu grito escuta
Sua voz é mais voz, tua música naquele sorriso muda

Diego Pinheiro

sábado, 23 de abril de 2011

Antes tarde do que nunca


Até poucos meses atrás "Black swan" era a febre do momento. No carnaval de Salvador, tivemos uma enxurrada de Cisnes Negros. Só se falava de Natalie Portman, e seu incrível trabalho. Mas eu, do contra como sempre, não assisti. Juro que nem foi pra ser uma daquelas pessoas chatas que não seguem a tendência, ou alguma coisa do tipo, foi apenas falta de oportunidade mesmo.
Então há alguns dias atrás, enquanto "fugia" de algumas obrigações, ouvi Lago dos Cisnes e lembrei-me do que ainda não tinha feito e resolvi baixar o filme e corrigir essa falha.
Confesso que comecei a assistir o filme meio apreensiva. Afinal os últimos comentários que escutei sobre o filme não tinham sido muito positivos, e todos estes últimos falavam que o filme caía no clichê. Mas depois dos primeiro minutos de filme a apreensão deu lugar ao mergulho na trama e no trabalho fantástico de Natalie. Fiquei tão empolgada com o filme que não consegui me conter e tive que vir aqui falar sobre o filme, mesmo com tantos relatórios da faculdade me esperando.
Acho que quando me falaram sobre o clichê, focaram apenas na primeira questão que é apresentada: A relação mãe super protetora e filha super protegida. Embora esta não me pareça tão clichê assim.
A mãe de Nina, personagem principal, lhe protegeu tanto da vida, que acabou não lhe deixando espaço pra viver. E "repertório de vida" era uma coisa que o personagem Cisne Negro exigia de Nina. Pois esta só conhecia a prisão do Cisne Branco. E conseguir todo o repertório de uma vida, em poucas semanas pode ser uma experiência intensa demais pra sanidade aguentar.
Outra questão que me chamou muito a atenção, foi a relação de Nina e Lily.
Lily é uma recém-chegada na companhia, e desde o seu primeiro dia exerce uma atração absurda em Nina. Poderia dizer que os opostos se atraem. Mas não me arrisco a tanto. Neste caso acredito que a atração seja fruto da igualdade. Lily era o lado negro de Nina. Li uma vez que o defeito que para nós é mais difícil de tolerar em outra pessoa, é aquele que possuímos. Acho que esse é o motivo pelo qual Nina começa a enxergar Lily como uma inimiga, e a criar essa competição que na verdade só existia em sua cabeça.
Pra quase finalizar, vou falar sobre a loucura de Nina.
Assim como em 'Uma mente brilhante', o filme faz o espectador se perder entre o que é verdade e o que é alucinação. E isso é que eu mais gosto. Gosto tanto disso, porque a loucura me fascina, e nós "sãos" temos a mania de nos distanciar dessas coisas, não sabendo que a linha que separa a sanidade da loucura é muito tênue.
E agora pra finalizar de verdade queria dizer que o mergulho de Nina, no Cisne negro e o de Natalie em Nina me tocou profundamente. A curva dessa personagem foi desenvolvida com maestria pela atriz e me arrepiei ao ver a transição Cisne Branco/ Cisne Negro/ Cisne Branco.
Por essas e outras questões me apaixonei pelo filme. E além do mais, ter Tchaikovsky como trilha sonora é MARAVILHOSO.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Insônia


Ele andava descalço por um gramado verde, molhado, cheiroso, que cobria uma grande superfície deserta. Ventava muito, chovia muito, trovejava muito, enquanto ele corria muito. Corria, se divertia, sorria e dançava a chuva, dançava a corrida, dançava o trovão e corria mais. Em meio a toda essa folia eis que surte um espinho. Um traiçoeiro espinho que se escondeu em meio a sua alegria.
Chorou e fechou os olhos de tanta dor. E feito isso todos os sons pararam, e ele, então, se viu diante da escuridão que se escondia em suas pálpebras. Era preciso ter coragem. Ele era corajoso. Homens são corajosos e não choram.
Abriu os olhos. E o que viu foi a escuridão conhecida do seu quarto.
Seu quarto onde os carrinhos dormiam no baú, os bonecos dormiam na prateleira e o cachorro dormia embaixo da cama.
Era bom estar em casa, e notar que seu pé não mais sangrava. Mas e o gramado? E a chuva? E o trovão? E a dança? Pensar nisso não lhe deixava dormir. Então levantou. Levou as mãos ao interruptor que traria a luz para seu já tão conhecido quarto, mas parou no meio do gesto.
Queria atravessar o seu quarto no escuro. Como nunca havia feito. Andou. Um passo, dois passos, três passos, a porta. Abriu. Sabia que se encontrava no corredor, mas este também estava escuro. Acharia a porta que levaria a cozinha sozinho. Ele já era um homem, e homens faziam isso quando tinham pesadelos.
Tateou a parede até encontrar uma maçaneta. Abriu. Entrou na sala. Mas o chão não era o frio piso da cozinha, era outra coisa. Parecia um tapete, no qual ele nunca havia pisado.
No tempo do seu silêncio surpreso ouviu uma música baixinha que tocava em alguma vitrola naquele cômodo. Reconheceu-a de imediato. Era música que seu pai ouvia quando estava trancado atrás daquela porta que não lhe era permitido atravessar.
Uma euforia tomou conta dele quando entendeu que estava na sala em que só os adultos podiam entrar. E ele nem precisou criar nenhum plano. Ele foi simplesmente presenteado por um descuido de seu pai. E agora? O que faria, já que já tinha embarcado no que prometia ser a maior de suas aventuras?
Dançou. Dançou a música, dançou o tapete, dançou o escuro e se esbarrou numa porta. Esta não estava trancada também. Abriu. Entrou. E se viu numa sala com duas portas. Ele nunca tinha sentido tanta euforia. Entrou na porta da esquerda, que dava para uma escada, que imediatamente ele subiu.
Se viu numa sala clara, e vazia, que tinha uma janela e dela ele podia ver a primeira sala, clara como a que estava, e pôde notar coisas que não tinha percebido quando passou por lá, como a flor que estava num jarro ao lado da vitrola, ou a coleção de canetas, cuidadosamente arrumadas em cima da mesa. Desceu. Entrou na porta da direita, e se viu cego de novo. Mas dessa vez não pela falta de luz, mas pelo excesso. Correu querendo sair dali. Seus olhos doiam. Tropeçou em alguma coisa. Como doía! Continuou correndo se esbarrou numa parede e achou outra porta. E se viu numa sala em penumbra, que dava para três portas. E ainda em estado de euforia ficou totalmente paralisado.
Já tinha visto demais. Era melhor voltar. Voltou. Correu. Tropeçou. Fechou os olhos. Continuou correndo até se ver diante do corredor, já iluminado pelos primeiros sinais da manhã. Entrou em seu quarto, suado, recuperando o fôlego e ficou diante do seu quarto. Seu quarto de sempre. Com seus carros, bonecos e cachorro. Com sua cama, seu baú e suas prateleiras. Mas agora ele sabia da existência de mais coisas. O que será que tinha atrás de cada uma das três portas? Ele precisava voltar e descobrir onde aquilo ia dá? Fechou os olhos pra respirar fundo e tentar se acalmar. Se viu, novamente diante da escuridão de suas pálpebras. E decidiu voltar. Era preciso ter coragem. Ele era corajoso. Homens são corajosos. Abriu os olhos. E o que viu foi a escuridão conhecida do seu quarto. Seu quarto onde o computador dormia na mesa, os livros dormiam nas prateleira e onde o cachorro não mais dormia. Era bom estar em casa. Mas e as portas? E as salas? E a euforia? Pensar nisso não lhe deixava dormir. Então levantou. Levou as mãos ao interruptor que traria a luz para seu já tão conhecido quarto, mas parou no meio do gesto.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

É bom poder contar a história

Sabe aquele tipo de viagem, onde a pessoa chega tranquilamente no aeroporto, faz seu check-in, passeia um pouquinho, pra passar o tempo, embarca, dorme e quando acorda está no seu destino? Pois bem...esse tipo de viagem não é pra mim.
Tudo foi bem até a parte de procurar meu portão de embarque. Em seguida tudo virou uma novela.
Meu portão era o três, localizado na casa da p.... . Andei horrores, e quando finalmente acho, ouço a vozinha da infraero "Atenção passageiros do vôo 3155, com destino a guarulhos, dirijam-se ao portão de embarque RB, logo após o raio-x." . Resultado: volto tudo.
Vocês conhecem alguém que já pegou um ônibus errado? Eu conheço várias pessoas que cometeram esse erro. E alguém que pegou o avião errado? Pois eu consegui essa façanha. Ou melhor, achei que tinha conseguido. É que a mulher com quem minha mãe se informou sobre meu vôo, atendendo a um pedido meu, disse que já que eu ia pra Campinas era pra eu ir pra o aeroporto algumacoisacopos, e não o de Guarulhos. Imaginem como eu fiquei!!! E pra piorar eu soube disso ouvindo, pelo celular, minha mãe conversar com uma mulher "Itaa poha! Ela já tá lá. E agora?" . Resumindo este capítulo da novela, resolvi embarcar mesmo assim ( Se fosse mesmo o aeroporto errado, pegaria um ônibus até o aeroporto certo e seguiria o meu destino).
Entro no avião, e tenho o prazer de sentar numa poltrona na frente de um pirralho nerd (tipo eu quando era mais nova) insuportável, que queria ser piloto, sabia tudo sobre altitude, conseguia definir a cidade pela qual estávamos passando, sabia pilotar como ninguém (no videogame, creio ) e não parava de falar. E a mãe dele, criatura adorável, fazia perguntas dos mais variados tipos para ver o filhinho gênio responder e ficar toda orgulhosa.
Não foram poucas as vezes que pedi a misericórdia divina. Para minha sorte, tinha um mp4 na bolsa.
Quando desembarquei liguei pra minha mãe, que me deu a notícia, maravilhosa, de que eu estava no aeroporto certo. Respirei, profundamente, aliviada. Para continuar eu deveria pegar um ônibus até a rodoviária.
Fui até o guichê comprar meu bilhete e recebo a notícia de que tinha acabado de sair um ônibus, e que o próximo só às 20:00 . Detalhe: era 18:30 . Pensei: vou passear no aeroporto.
Quando resolvo tomar um ar às 18:55, percebo uma movimentação estranha, e um ônibus da empresa da que eu iria pegar, se preparando pra sair. Foi então que me toquei: "P..ta que Pari..., o horário de verão!" .
Corri e consegui pegar o ônibus. Chego na rodoviária. Lá eu deveria pegar um outro ônibus, até o terminal Barão Geraldo. Ou seja, saí procurando o tal ônibus.
No meio da minha busca resolvo ir ao banheiro. A senhora que tomava conta do banheiro, e que me informou o preço pra usá-lo, percebeu que eu não era de lá. Ela: "De onde você é?" Eu: " Bahia" - Imediatamente vi que seus olhos tinham visto a guia de Oxum que tinha em meu pescoço. Ela: "Lá tem muito pai de Santo né? " Eu:" Han? o.O" - Então, adoravelmente ela começou a falar sem parar, sobre uma pessoa que mandou 26 mensagens pra ela, e que era pra eu dizer pra ela se essa pessoa era do bem, e que eu perguntasse pra minha Pomba o que ela deveria fazer. - É. Vocês não leram errado. Ela falou isso mesmo. Exatamente assim. - Enquanto eu insistia para usar o banheiro, ela insistia pra eu pensar no assunto. Quando consegui, me esquivei e deixei ela falando sozinha.
Enquanto corria, achei o que parecia ser a entrada para o terminal do ônibus. E pra confirmar perguntei a uma mulher que estava com a farda da rodoviária. "Moça, como faço pra chegar no terminal Barão Geraldo?" A mulher se virou e começou a chorar.
Chorar muito.
Eu, é claro, fiquei sem ação. "Moça, a senhora tá bem?" "Desculpa (suspiro). É que eu ...tive um dia muito ruim. (Suspiro) Mas não vou descontar na senhora não. (suspiro)...Siga em frente, vire a esquerda e depois a direita, e pegue o ônibus 322" - Corri de novo.
Depois disso, tudo começou a correr tranqüilamente (já não era sem tempo). Cheguei, encontrei quem tinha que encontrar, e agora estou devidamente alojada, terminando esse post para ir dormir.
Amanhã tem mais 'Diário de Bordo'

Eu gosto da noite

Eu gosto da noite. Porque é nela que as pessoas se encontram. É nela que os bares abrem, e as pessoas se olham. É nela que as pessoas bebem e se mostram. É nela que a cidade pulsa.
Eu gosto da noite. Porque é nela que a casa se une, e seus habitantes se perguntam "como foi seu dia?". É nela que se descansa, e se ver o tempo passar. É nela que se dorme abraçado, ou se dorme sozinho. É nela que se sonha.
Eu gosto da noite. Porque é nela que as mentes funcionam. É nela que se coloca o trabalho atrasado em dia. É nela que se pensa e se escreve. É nela que se "poeta"(com toda licença que a poesia me permite).
Eu gosto da noite. Porque é nela que a cidade adormece. É nela que os carros param, o mar faz barulho, e se ouve o vento. É nela que as estrelas brilham, e os pássaros dormem.
Eu gosto da noite, porque é em seu silêncio que eu me escuto...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ser, individuo, sujeito, PERSONA


Por conta de uma cena para qual estou ensaiando, fui aconselhada a assistir PERSONA. De cara não me animei, pois já tinha tentado assistir e não tinha conseguido passar dos 5 minutos iniciais. Nunca havia assistido nenhum dos filmes classificados como Cult, e começar por Bergman, e mais precisamente por Persona não foi a coisa mais sensata que tentei fazer. Mas dessa vez tinha uma grande motivação para passar dos citados cinco minutos: A cena.
Perdoem-me se esse post não fizer sentido, mas é que acabei de assistir e não tem nada fazendo sentido na minha cabeça. Talvez eu devesse esperar pelo menos o grande embrulho, que se formou no meio do meu peito, se dissolver, ou o meu ar voltar, mas minha ansiedade não me deixa esperar tanto. (Gente será que o que estou sentindo é algum grau da Síndrome de Stendhal?...juro que nunca me senti assim!)
Não vou falar um resumo da história, nem como a atriz (Elisabet) e a enfermeira (Alma) se conheceram. Tudo isso se encontra na primeira sinopse que aparecer em uma busca (nem precisa ser detalhada) no Google. Mas preciso destacar que nunca me sentir tão presa ao assistir um filme! Nunca uma hora passou tão rápido. Não sei se foi o tipo de filmagem, com a qual não estou acostumada, ou a trilha sonora angustiante. Talvez tenha sido culpa dos closes sufocantes, o tom enigmático ou não sei mais o que.
Na verdade, na verdade , o que aconteceu no filme ainda não está claro para mim. Ainda não sei dizer, se as duas se confundiam, se se completavam, ou se sempre foram uma só. Mas das coisas que achei mais forte foi a simplicidade ao falar do quão comum é representar, diante de pessoas, diante de uma classe ou mesmo diante de nós mesmos. Coisa pela qual me culpo muitas vezes.
Acho que o dia em que um homem for capaz de agir COMPLETAMENTE de acordo com suas vontades, o mundo terá conhecido um ser totalmente livre. Mas não acredito que isso tenha acontecido....às vezes não acredito nem que isso seja um dia possível.
Pronto acho que já sei porque o filme me deixou tão sufocada. Acho que ele mostrou minha prisão, ao mesmo tempo que abriu uma porta enorme de questionamentos que chegam descontroladamente em minha cabeça .


Pra encerrar, um trecho da fala da analista à Elisabet, logo após aquela oferecer sua casa de verão na praia para a atriz descansar:

- Pensa que não entendo? O inútil sonho de ser. Não parecer, mas ser. Estar alerta em todos os momentos. A luta: o que você é com os outros e o que você realmente é. Um sentimento de vertigem e a constante fome de finalmente ser exposta. Ser vista por dentro, cortada, até mesmo eliminada. Cada tom de voz, uma mentira. Cada gesto, falso. Cada sorriso, uma careta. Cometer suicídio? Nem pensar. Você não faz coisas desse gênero. Mas pode se recusar a se mover e ficar em silêncio. Então, pelo menos, não está mentindo. Você pode se fechar, se fechar para o mundo. Então não tem que interpretar papéis, fazer caras, gestos falsos… Acreditaria que sim, mas a realidade é diabólica (…).

domingo, 30 de janeiro de 2011

Inércia


Os pássaros começavam a cantar. O sol começava a nascer, e com isso o dia começava a clarear. As coisas estavam mudando: Em todo o mundo folhas do calendário eram arrancadas, a noite se tornava dia e o frio se tornava quente. Mas enquanto tudo isso acontecia, Maria continuava parada. Na mesma posição em que passara toda a noite. Desperta.
Ela tinha 12 anos, e tinha passado toda a noite deitada em sua cama, de barriga para cima, com os olhos bem abertos, os pés juntos e as mãos cruzadas no peito. Mas entre suas mãos e o seu coração tinha um livro. O livro com sua história preferida e que Maria escondia. Porque mostrá-lo lhe transformaria numa criatura tão estranha quanto o personagem principal de seu livro preferido.
O certo seria, nesta fase de sua vida, ser apaixonada pelas cinderelas, seus príncipes encantados e suas histórias de amor. Mas ao invés disso era pelo cisne que achava que era um pato que Maria era apaixonada. E enquanto Maria revivia em sua mente, pela milésima vez, desde a última noite, suas passagens favoritas da história, ouviu os passos de sua mãe no corredor e imediatamente mudou de posição e fingiu dormir.
Poucos segundos depois a mãe de Maria chegou no quarto com a intenção de despertá-la para ir para a escola, onde aprenderia alguma coisa nova, brincaria com seus amigos e fingiria gostar das cinderelas, mesmo querendo ser um cisne e descobrir que vivia entre patos.
Mas todos eram tão iguais. E não vendo a possibilidade de ser um cisne, precisava fingir ser pato. Ou em uma perspectiva mais otimista, se transformar em um.
Maria levantou-se, se arrumou, testou o sorriso no espelho e saiu, com uma única meta na cabeça: Correr para que anoitecesse o mais rápido possível e pudesse voltar para seu quarto, sua cama e seu livro.
Algumas horas depois, os pássaros começavam a cantar. O sol começava a nascer, e com isso o dia começava a clarear. As coisas estavam mudando: Em todo o mundo folhas do calendário eram arrancadas, a noite se tornava dia e o frio se tornava quente. Mas enquanto tudo isso acontecia, Maria continuava parada. Ora adormecida, ora desperta. Sempre com seu livro no peito, entre suas mãos e o coração.
Enquanto tudo mudava sempre, Maria continuava sempre parada esperando que alguma coisa mudasse dentro, ou fora, dela.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Camisas

Esse texto é fruto de uma insônia, num momento Sônia de uma cabeça cansada...




Vestiu-se com a primeira camisa que encontrou. Afinal não podia perder tempo com camisas, seu tempo era precioso demais para ser desperdiçado dessa forma. Bebericou o café e se queimou. Estava muito quente. Nice ouviu bastante naquela manhã, afinal de contas ele tinha que culpar alguém, agora além de queimado estava atrasado. Mas ele não notou que seu atraso se deu por conta do tempo gasto para explicar mil vezes a Nice que ele não gostava de café muito quente, porque tinha dentes sensíveis, e não podia machucar sua voz, que era o seu instrumento de trabalho, e consequentemente era o seu gan...Para ensinar aos outros era preciso gastar tempo sim. Não com camisas. Com camisas não se perde tempo.
Resolveu desistir do café. Comeria qualquer coisa na rua. Verificou se tinha todos os projetos na pasta. Passou tanto tempo escrevendo, lendo e relendo que não podia correr o risco de perder o patrocínio porque tinha esquecido algum de seus documentos. Passou tanto tempo lendo e relendo isso na noite anterior, que não notou que tinha misturado as camisas brancas com as vermelhas na hora da lavagem, e que elas soltavam tinta e que isso mancharia as bran... Mas não, com camisas não se perde tempo.
Não pensem que ele não gostava de camisas. Tinha várias. Coleções inteiras. Cada uma combinando com uma ocasião: Casamentos, encontros casuais, saída com os amigos, encontro com a família da atual esposa, encontro com a ex-esposa (sim nessa hora era preciso um pouco mais de esmero. Era preciso mostrar como estava bem. Orgulho, talvez...), noites solitárias etc. Tinham as que estavam na categoria especial: camisas de banho, camisas de sexo, camisas de ginástica etc outra vez. O importante era não expor o seu peito nu. Não, isso não podia. As camisas poderiam, para a felicidade de Nice, estar divididas com etiquetas. Mas não era preciso, ele sabia bem qual deveria ser usada em cada ocasião. Costume, talvez.
Mas ele misturou as brancas com as vermelhas, e isso poderia ser um probl...Não. Não se perde tempo com essas camisas. Estão todas aí. Divididas por ocasiões. É só pegar a primeira alocada na ocasião correspondente. Pronto. Não era preciso perder tempo. Havia camisas que podia substituir, emergencialmente, outra. Ele aprendeu... Certa vez, ele ganhou um peso a mais e camisa que escolheu vestir não lhe servia. Foi preciso expor seu peito nu... nossa como estava mais definido... Até achar, em uma loja, outra que servisse para a ocasião. Por isso a coleção. Ah! Esqueci de mencionar que tinham camisas de vários tamanhos. O motivo vocês já sabem. Bem...de qualquer forma, uma ou duas camisas manchadas, não exporiam o seu peito nu. Causaria no máximo um mal estar a Nice, mas ele a ensinaria, durante um tempo, com seu discurso bem elaborado, a não misturar as camisas brancas com as vermelhas na hora da lavagem.
Mas voltando àquela manhã, depois de perder tempo demais com as camisas (Eu, este narrador que vos fala, porque ele não perde tempo com camisas), ele saiu finalmente de casa. Ligou seu carro. Fez o caminho de sempre. Passou pelas mesmas ruas de sempre, chegando ao estúdio de sempre. Deu bom dia as pessoas de sempre. Como já as conhecia o contato visual não era necessário, até porque todas estavam muito ocupadas com seus projetos e afazeres. Continuando seu caminho até aquele momento glorioso do tão esperado dia, subiu no elevador de sempre, até o andar da sala de reuniões de sempre. Saiu um pouco eufórico, seguiu o corredor. Agora faltava pouco pra colocar em prática o seu projeto mais audacioso. Virou à direita e foi então que. Não. Isso não podia acontecer numa outra manhã? Tinha que ser nessa?
Mário saia apressado da sala com um copo de café que agora estava jogado no meio da camisa dele. Mário é claro ouviria muito. E depois desse muito Mário resolveu lhe emprestar sua camisa. Não era perfeitamente adequada para aquela ocasião, além de não ser exatamente do seu tamanho, afinal o peito que estaria ali dentro não era o mesmo, mas depois de alguns ajustes, com os alfinetes e linhas de segurança que tinha em sua sala, deveria servir.
Ele correu pra resolver essa situação. Entrou em sua sala. Apertou aqui, ali e pronto. Pegou a pasta e saiu. Saiu muito rapidamente, afinal de contas ele não perde tempo com camisas. Estava agora atrasado, queimado e desconfortável com a aquela roupa que não era sua. Não era naquele dia.Hoje...não sei. Deve ser, talvez.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

E se for modismo, qual é o problema?




Hoje estava na Casa da Mãe, esperando a fila andar para que eu pudesse pagar a minha comanda e ir pra casa, quando ouvir uma conversa que me deixou particularmente irritada.
Uma moça perguntava a um rapaz, que estava usando uma conta de Oxalá, se ele era de Oxalá, e o rapaz com um ar muito superior respondeu:
Nem tente descobrir pela conta de que santo eu sou. Vai se atrapalhar toda. Eu não sou dos que ficam por aí dizendo qual é o meu santo. Eu não gosto que saibam, nem que sou do candomblé. Acho que hoje virou modismo. Antes as pessoas se escondiam, hoje todo mundo é filho de santo e leva uma conta no pescoço.
Fiquei um tempo abismada. E não consegui responder nada(coisa que me arrependo até agora). Fiquei pensando: Mesmo que seja por causa do "modismo", não é maravilhoso não precisar se esconder hoje?
Fiquei por um tempo me lembrando das histórias que ouvi. Das histórias de pessoas que sofriam, e ainda sofrem, preconceito nos lugares que freqüentam. Histórias de pessoas que foram humilhadas por fazerem parte de uma religião considerada demoníaca, pelos ignorantes. Histórias de candomblés que tinham que parar porque a polícia havia chegado. Histórias de pessoas que eram castigadas por cultuar os Orixás. Histórias de pessoas que precisavam usar imagens de santos católicos para continuar cumprindo suas obrigações perante aos seus Deuses. E me pergunto, não é um grande avanço poder não se esconder hoje?
Não é um grande avanço poder dizer que é filho de santo, e não ser humilhado por isso. Não é um grande avanço poder sair de branco, com contas no pescoço e contregum no braço e não ser expulso dos lugares por isso? Não é um avanço poder escrever letras de canções para os orixás e ser aclamado por isso, e ver sua música cantada, e dançada com prazer?
Desculpa se posso ofender alguém, mas estou pouco me lixando se é por modismo ou por qualquer outra coisa. O que me importa é ver parte do preconceito morto (porque ainda há muito pra se mudar). O que me importa é poder dizer: Sou do candomblé e é nisso que acredito, e não ser perseguida por isso.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Nota importante - Sorte que eu não tenho

Odeio me sentir assim.
Odeio me sentir como uma represa. Prendendo beijos que não posso dar, sorrisos que prefiro guardar e palavras que escolho não dizer.
Ahh...esse cheiro. Que raiva tenho dele. Principalmente por me fazer perder o controle da minha mente, que se perde no meio de um monte de ilusão e idealização. Ou que me faz perder o controle do meu coração, que ingenuamente se perde no meio de tanto sentimento.
Odeio amar.
E principalmente odeio o fato de não vislumbrar uma oportunidade de dizer "eu te amo".
Como eu queria a sorte de um amor tranquilo...

sábado, 8 de janeiro de 2011

Gema




GEMA

Brilhante, ê
De noite dentro da mata
Na escuridão, luz exata, vejo você
Divina, ê
Diamantina presença
Na solidão de quem pensa só em você
Esquecer não
Revelação
Deixa eu ver
Pedra clarão da floresta
Gema do olho da festa
Deixa eu saber
Meu amor
Dona da minha cabeça
Não, nunca desapareça
Do seu amor
Esquecer não
Me perder não
Estrela, ê
Na taça negra da selva
Gota de luz sobre a relva
Meu bem querer
Lua, sol e
Centro do meu pensamento
Meu canto dentro do vento
Busca você
Esquecer não
Esconder não
Brilhante, ê

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Minhas Redes Sociais depois de 'Rede Social'

Hoje assisti ao filme 'Rede Social'. E como era de se esperar, até agora não consigo parar de pensar sobre ele. Estou escrevendo esse post não com o objetivo de falar sobre o filme (roteiro, cenografia, sonoplastia ou qualquer coisa do gênero), mas pra falar um pouco sobre as coisas que foram despertadas em mim depois de assistir esse filme. E preparem-se para um post cheio de " exageros verídicos".
O filme, pra quem não sabe, conta a história da criação do Facebook, um dos meus vícios, e por isso, obviamente me tocou tanto. Mas minhas reflexões se ampliam. Não estão restritas apenas ao site em questão...falo de mais.
Um amigo me disse, assim que terminamos de assistir ao filme, ou se não me engano até durante, que a internet é o "sonho anarquista", e que é o lugar onde as pessoas se individualizam, escrevendo o que querem, da forma que querem, na hora que querem. E acho que nunca encontrei alguém que tivesse resumido tão bem o que penso sobre a internet.
Nela as coisas voam. Em velocidades cada vez mais impressionantes 2, 3, 4, 5 Megas, e por aí vai. Portanto é o meio de mais fácil disseminação de informações, e isso ninguém pode negar. Mesmo os que não fazem um uso tão constante dele. Todos possuem pelo menos uma conta de e-mail. Mesmo que seja por causa do trabalho.
As coisas que chegam na internet, não saem de lá. Seja um poema, uma foto, um texto qualquer, uma música, uma idéia, ou até mesmo um vídeo de algum momento íntimo de uma pessoa (para não ser muito restritiva falando vídeo de sacanagem) . Porque, por mais que você se arrependa e retire o que postou de onde postou, uma outra pessoa já tem, e essa já passou para outra pessoa que se interessou e por isso passou para outra pessoa, e por aí vai. Tudo isso em poucos minutos. Quanto mais popular você for, ou quanto mais popular for o material que publicar, sua velocidade aumenta alguns Megas. Essas coisas não saem de lá. São esquecidas apenas, afinal todo o tempo surgem coisas que vão se sobrepondo a essas.
Há um tempo venho escrevendo no meu blog sobre o fato de os diálogos estarem se tornando , cada vez mais, dois monólogos. Pensando bem, a internet está anos luz a frente nisso aí. Basta olhar esse blog, onde você está lendo esse post. Pra começar, se você nunca reparou e vem sempre aqui, tem uma tag ao lado, com o nome de um dos meus marcadores, que eu carinhosamente nomeie de "Um pouco de mim". Pára!!....Quem é que quer "Um pouco de mim? Quem é que precisa saber Um pouco sobre de mim? Pra que eu quero que saibam um pouco sobre mim?
As pessoas, me incluindo no grupo, obviamente, escrevem na internet muitas vezes o que não tem coragem de dizer pessoalmente, mandam recados para pessoas que as vezes nem as lêem, contam coisas que não são nada relevantes para as vidas de outras pessoas, e o pior, outras pessoas lêem tudo isso.
O mais louco de tudo isso, de minha parte, pelo menos, é achar isso tudo e a primeira coisa que fiz quando cheguei em casa, foi postar no Facebook
Assisti ao filme 'Rede Social' hoje. O Facebook nunca mais será o mesmo pra mim!!!
há 5 horas · ·
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Ai ai,,,chega de filosofar, meu povo, e sair daqui, que eu ganho mais....Aliás, deixa eu Twittar isso primeiro, e compartilhar esse monólogo no Facebook antes de procurar no Google o que fazer pra combater minha insônia . Ahhh, e é claro, marcar esse post com "Um pouco de mim"

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O Piano


Encontrava-me em uma de minhas andanças (doentias) de férias pela internet, e dessa vez o site escolhido foi o Youtube. Buscava vídeos de músicas tocadas em piano, começando por beethoven, passando por Yann Tiersen e indo parar em temas de filmes. Até que me deparo com a música tema de um filme chamado "O Piano". Tinha deixado a música tocando e ido fazer uma das milhares de coisas que costumo fazer ao mesmo tempo quando estou online. E me apaixonei pela música. Não sei dizer porque, só sei que me tocou.
Fui até a aba do youtube e coloquei pra repetir, e dessa vez notei que tinham cenas do filme no vídeo, e me interessei. Procurei sinopses e me interessei mais ainda. Resultado: Baixei o filme.
Meu Deus!! Que filme!!
O Piano é um filme de 1993. É um drama, que se passa na Era Vitoriana, escrito e dirigido pela neozelandesa Jane Campion. E conta a história de uma mulher que escolheu parar de falar aos 6 anos de idade, Ada McGrath, por um motivo desconhecido até por ela. Ela tem uma filha, fruto de um relacionamento seu com um professor de piano que teve, e se muda com esta filha para Nova Zelandia, ainda no começo da colonização desse país, pois teve um casamento arranjado por seu pai com um explorador do local, Stewart. Por ser muito grande, pesado e de díficil locomoção Stewart não permite que Ada leve o piano. Sem saber que era através dele que ela falava. Não era com a linguagem de sinais, nem com as notas  no papel, era com a música que Ada dizia e contamizava os outros com o que sentia. E escolher não levar o piano foi um péssimo começo de relação.
É aí que entra Baines, que trabalhava com Stewart e começou a se interessar por Ada.
Ele troca o piano, por um pedaço de terra com Stewart e pede para que ele permita que Ada lhe dê aulas de piano. A contragosto Ada aceita a proposta, e chegando lá recebe uma ainda maior. Baines queria" fazer coisas enquanto" Ada tocava. E lhe devolveria o piano, tecla por tecla, a cada aula.
Aos poucos eles negociavam a quantidade de teclas do piano de acordo com a intensidade do encontro, que foi aumentando gradativamente. Depois de algumas teclas, Ada, sem perceber, já está envolvida com aquele "ignorante que não sabe nem ler" (como o chamava), mas a esta altura a filha dela já tinha sido conquistada pelo seu novo pai, Stewart, e a sinceridade infantil acaba causando um caos.
O roteiro desse filme é incrível, e surpreendente. Foge do lugar comum. Além de ser muito, mas muito, emocionante. A trilha sonora é encantadora. Para amantes do piano como eu então, nem se fala.
E o que dizer de Holly Hunter (Ada)? Não sei quem concorria com ela ao Oscar  em 1993, mas  deve ter sido merecidíssima sua premiação. Ela consegue dar vida a uma personagem tão confusa, tão complexa, e ...e ... (me faltam palavras), sem o uso de uma fala. O olho daquela mulher dizia tudo. Isso é que eu chamo de ação interna..srsrs.
Ahh...chega..não sei mais o que dizer...
Aliás acho que é exatamente por isso que estou tão encantada pelo filme. Porque não sei o que dizer. Me tocou de uma forma tão profunda que não consigo descobrir ao certo onde tocou. Nem porque tocou. Só sei que tocou. E isso basta para mim.

domingo, 2 de janeiro de 2011

2011 e as mulheres no comando.

 http://www.youtube.com/watch?v=B-2rawhsWww

Vamos começar esse ano, com duas mulheres no governo de tudo: Dilma, a frente do nosso país, e minha mãe Oxum a frente do ano. Viva 2011 !! Muito amor, doçura, paz, saúde, prosperidade, avanços, coragem, luz, axé, trabalho, garra, igualdade..., humildade e muito mais nesse ano que acabou de chegar.

"O Brasil do futuro será exatamente do tamanho daquilo que juntos fizermos por ele hoje (...).O ser humano não é só realização prática, mas sonho.Não é só cautela racional, mas coragem, invenção e ousadia (...) e a mulher não é só coragem, é também carinho."

Supremacia Murphy

Um dia escrevi um post sobre meu amiguinho, nada adorado, Murphy. Agora ele está de volta. Ou melhor, esteve, e queria à todo custo passar o revellion comigo. Vê se pode?
Estava aflita por não ter uma programação para a virada do ano, e muitas vezes pensei em não fazer nada e simplesmente dormir em 2010 e acordar em 2011. Até que saí com alguns amigos do CEFET, com quem estava no dia descrito no post citado, e estes também não tinham nada para fazer no revellion. Resultado: resolvemos juntar nossos nadas e formar alguma coisa.
Resolvemos que iriamos pedir a benção de Nosso Senhor do Bonfim, simplemente no Bonfim, de lá iríamos para nossas casas, nos encontrariamos no fim da tarde, comprariamos comidinhas e bebidinhas, iriamos para Ipitanga, e ficaríamos lá até amanhecer. Confesso que era um plano ousado, mas no fim das contas de fácil execução, mesmo com tantas idas e vindas.
Foi então que da noite do dia 30 de dezembro, para o dia 31 Murphy começou a me mandar mensagens de texto: Eu tive uma insônia que não tinha a muito tempo, e simplesmente só comecei a ter sono às 5:30 da manhã. Só tinha um problema nisso tudo, eu deveria estar na Ribeira às 8, e pra isso acontecer eu teria que acordar às 6. Sentiram o desespero?
Ok! A solução era simples. Não dormir. Assim fiz..e não foi dessa vez que Murphy me chateou. Quer dizer, não muito...

Chegamos na igreja do Bonfim, que estava lotada, compramos fitinhas, fizemos pedidos, e assistimos a missa do lado de fora. Depois sentamos num barzinho e ficamos jogando conversa fora. Começou em Xuxa e terminou, muito tarde, em Nietzsche.

Cheguei em casa, almocei e tentei tirar um cochilo. Consegui tirar um de 30 minutos, e acordei achando uma péssima idéia ter ido deitar, porque até minha cabeça já começava a doer. Mas não. Não ia me desanimar, era Ano Novo. 
Me encontrei, como combinado no mercado, aqui do Rio Vermelho, nos abastecemos e pegamos um ônibus Praia do Flamengo. Fizemos aquela viagem longuíssima, para Ipitanga, até que depois de uma hora no ônibus, descemos no ponto e procuramos a entrada da praia. Foi então que o desespero começou a bater, e com força.

Isso era a praia de Ipitanga. 
"E agora?  O que que vamos fazer?" . Tentando nos convencer de que eramos otimistas e íamos encontrar uma solução simples, resolvemos ir pra Barra, mas o medo de não passar ônibus era grande. Nunca se sabe como está a frota de Onibus em Salvador, quanto mais dia de festa.
Foi então que vimos o mesmo ônibus no qual viemos, voltando, e então fomos perguntar se este passaria na barra. Eu não sei se o pior foi o cara dizendo que não passava, ou se foi ver um passageiro que tinha restado dentro do ônibus, rir da nossa cara depois de ter entendido o que tinha acontecido.
Passamos um tempo esperando e vimos um Campo grande. Depois de não parar no nosso ponto, corremos um pouco e o alcançamos. Lá vamos nós para mais uma viagem de uma hora.
No caminho começamos a discutir, onde acharíamos lugar pra ficar, o quanto estaria cheio, o quanto estaria perigoso e tivemos vários acessos de riso, para não chorar.
Até que na Pituba, o ônibus, simplesmente, quebra...
(Pausa, é que estou revivendo a tensão, só de lembrar)...
...(pronto, já estou melhor) 
..então tivemos que descer e pegar outro ônibus. Pegamos um que estava lotado, e com uma galera que já tinha começado a festa ali dentro, e fomos obrigados a ouvir todos aqueles desafinados cantarem músicas belíssimas, além de ver as performances de Xereca, uma biba que estava no ônibus gritando "Ano que vem não vou ser mais homossexual, serei Travestis" e dizendo que precisava de mais alcool, pois o efeito do que ele tinha tomado já tinha acabado Oo (?) .
Começamos então a pensar em um outro problema: as coisas que estavamos nas mãos, as nossas compras. Era muita coisa pra ficar circulando por um lugar tão cheio, então foi com muita dor no coração que fomos nos desfazendo de algumas coisas, como por exemplo as duas garrafas de vinho que demos ao cobrador.
Foi então que conseguimos achar um lugar aos pés do Cristo, antes da virada do ano, e acho que ele teve piedade de nós , e mandou Murphy embora.

Seja bem vindo 2011!


Dani, Regi, Caique, foi muito bom estar com vocês nesse dia!