terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Ser, individuo, sujeito, PERSONA


Por conta de uma cena para qual estou ensaiando, fui aconselhada a assistir PERSONA. De cara não me animei, pois já tinha tentado assistir e não tinha conseguido passar dos 5 minutos iniciais. Nunca havia assistido nenhum dos filmes classificados como Cult, e começar por Bergman, e mais precisamente por Persona não foi a coisa mais sensata que tentei fazer. Mas dessa vez tinha uma grande motivação para passar dos citados cinco minutos: A cena.
Perdoem-me se esse post não fizer sentido, mas é que acabei de assistir e não tem nada fazendo sentido na minha cabeça. Talvez eu devesse esperar pelo menos o grande embrulho, que se formou no meio do meu peito, se dissolver, ou o meu ar voltar, mas minha ansiedade não me deixa esperar tanto. (Gente será que o que estou sentindo é algum grau da Síndrome de Stendhal?...juro que nunca me senti assim!)
Não vou falar um resumo da história, nem como a atriz (Elisabet) e a enfermeira (Alma) se conheceram. Tudo isso se encontra na primeira sinopse que aparecer em uma busca (nem precisa ser detalhada) no Google. Mas preciso destacar que nunca me sentir tão presa ao assistir um filme! Nunca uma hora passou tão rápido. Não sei se foi o tipo de filmagem, com a qual não estou acostumada, ou a trilha sonora angustiante. Talvez tenha sido culpa dos closes sufocantes, o tom enigmático ou não sei mais o que.
Na verdade, na verdade , o que aconteceu no filme ainda não está claro para mim. Ainda não sei dizer, se as duas se confundiam, se se completavam, ou se sempre foram uma só. Mas das coisas que achei mais forte foi a simplicidade ao falar do quão comum é representar, diante de pessoas, diante de uma classe ou mesmo diante de nós mesmos. Coisa pela qual me culpo muitas vezes.
Acho que o dia em que um homem for capaz de agir COMPLETAMENTE de acordo com suas vontades, o mundo terá conhecido um ser totalmente livre. Mas não acredito que isso tenha acontecido....às vezes não acredito nem que isso seja um dia possível.
Pronto acho que já sei porque o filme me deixou tão sufocada. Acho que ele mostrou minha prisão, ao mesmo tempo que abriu uma porta enorme de questionamentos que chegam descontroladamente em minha cabeça .


Pra encerrar, um trecho da fala da analista à Elisabet, logo após aquela oferecer sua casa de verão na praia para a atriz descansar:

- Pensa que não entendo? O inútil sonho de ser. Não parecer, mas ser. Estar alerta em todos os momentos. A luta: o que você é com os outros e o que você realmente é. Um sentimento de vertigem e a constante fome de finalmente ser exposta. Ser vista por dentro, cortada, até mesmo eliminada. Cada tom de voz, uma mentira. Cada gesto, falso. Cada sorriso, uma careta. Cometer suicídio? Nem pensar. Você não faz coisas desse gênero. Mas pode se recusar a se mover e ficar em silêncio. Então, pelo menos, não está mentindo. Você pode se fechar, se fechar para o mundo. Então não tem que interpretar papéis, fazer caras, gestos falsos… Acreditaria que sim, mas a realidade é diabólica (…).

2 comentários:

Enoe Lopes Pontes disse...

Incrível mesmo! Persona é um filme muito sufocante. Para mim, é o mais sufocante de Bergman. Eu sei como você se sentiu. Me emocionei ao ver como o longa mexeu com você. Como a arte pode ser transformadora. Nos fazer enxergar o que parece banal, mas não é. Parabéns por ter começado tão bem, no que diz respeito aos filmes cults. Parabéns por ter sentido tanto este filme. Continue neste caminho. Que eu acho que é o certo. Pelo menos para uma atriz.

Eduardo Machado disse...

Persona nos fornece a ultrapassagem de qualquer realismo psicologizante. Os filmes de Bergman são labirínticos e sempre se faz necessário interpretá-los a partir do não-dito. Persona vai além de todos os outros. Não se entrega assim facilmente ao espectador. Podemos nos aproximar dele, mas nunca atingir sua verdade.