quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

E se for modismo, qual é o problema?




Hoje estava na Casa da Mãe, esperando a fila andar para que eu pudesse pagar a minha comanda e ir pra casa, quando ouvir uma conversa que me deixou particularmente irritada.
Uma moça perguntava a um rapaz, que estava usando uma conta de Oxalá, se ele era de Oxalá, e o rapaz com um ar muito superior respondeu:
Nem tente descobrir pela conta de que santo eu sou. Vai se atrapalhar toda. Eu não sou dos que ficam por aí dizendo qual é o meu santo. Eu não gosto que saibam, nem que sou do candomblé. Acho que hoje virou modismo. Antes as pessoas se escondiam, hoje todo mundo é filho de santo e leva uma conta no pescoço.
Fiquei um tempo abismada. E não consegui responder nada(coisa que me arrependo até agora). Fiquei pensando: Mesmo que seja por causa do "modismo", não é maravilhoso não precisar se esconder hoje?
Fiquei por um tempo me lembrando das histórias que ouvi. Das histórias de pessoas que sofriam, e ainda sofrem, preconceito nos lugares que freqüentam. Histórias de pessoas que foram humilhadas por fazerem parte de uma religião considerada demoníaca, pelos ignorantes. Histórias de candomblés que tinham que parar porque a polícia havia chegado. Histórias de pessoas que eram castigadas por cultuar os Orixás. Histórias de pessoas que precisavam usar imagens de santos católicos para continuar cumprindo suas obrigações perante aos seus Deuses. E me pergunto, não é um grande avanço poder não se esconder hoje?
Não é um grande avanço poder dizer que é filho de santo, e não ser humilhado por isso. Não é um grande avanço poder sair de branco, com contas no pescoço e contregum no braço e não ser expulso dos lugares por isso? Não é um avanço poder escrever letras de canções para os orixás e ser aclamado por isso, e ver sua música cantada, e dançada com prazer?
Desculpa se posso ofender alguém, mas estou pouco me lixando se é por modismo ou por qualquer outra coisa. O que me importa é ver parte do preconceito morto (porque ainda há muito pra se mudar). O que me importa é poder dizer: Sou do candomblé e é nisso que acredito, e não ser perseguida por isso.

Um comentário:

- Laís Cristina disse...

É, minha irmã.
Eu te entendo, mas entendo também o que ele quis dizer (mesmo que de um modo rude) .
Acho um progresso poder falar que somos filhos de Santo, sem dúvidas, mas acho que ele deveria ser mais direto e se referir somente ás pessoas que realmente não sabem o que fazem na religião. É triste, mas tem .